Boletim Epidemiológico

Pato Branco, 2019

Introdução

A dengue, a febre de chikungunya e a febre pelo zika são doenças de notificação compulsória e estão presentes na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública. A negligência sobre estas doenças propiciando epidemias caracteriza-se como crime contra a saúde pública.

Este é o segundo Boletim Epidemiológico publicado no município de Pato Branco referente a estas doenças veiculadas pelo mosquito Aedes aegypti que contém todas as ocorrências registradas na história do município até o mês de dezembro de 2019. Na sequencia os Boletins serão publicados na frequência necessária que o Plano de Contingência exigirá. O principal objetivo destas publicações é aumentar o nosso conhecimento de como estas doenças se manifestam no ambiente que vivemos em nosso município e sem dúvida dar-nos condições de poder interceptar sobre os problemas adequadamente.

Contextualização

Podemos observar a importância para o atendimento em saúde, o ato profissional de relacionar o sintoma da doença com o histórico de viagem do paciente, ao visualizarmos o Gráfico 1, que ilustra as fontes prováveis de contato das pessoas com vetores infectados pelo o vírus da dengue. A nossa população contraiu Dengue em 28 locais diferentes e com distâncias diversas de Pato Branco. As divisas territoriais e as distâncias não são barreiras para o vírus da Dengue, onde vários focos de transmissão simultâneos levaram a maior epidemia no município no ano de 2016. Deixar de valorizar a anamnese na consulta é propiciar a introdução da doença em uma nova área.

Gráfico 1: Locais de infecção para dengue até dezembro de 2019 GRÁFICO 1 – Locais como prováveis fontes de infecção para dengue em munícipes de Pato Branco até dezembro de 2019. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

Casos de Dengue

Os primeiros casos de Dengue em pessoas residentes de Pato Branco começaram a se manifestar no ano de 2010 quando confirmamos 3 ocorrências. A primeira ocorreu no mês de fevereiro quando uma pessoa (33anos) do sexo feminino viajou até o município de Francisco Beltrão. O segundo ocorreu no mês de abril em uma pessoa (21anos) do sexo feminino que também havia viajado para Francisco Beltrão. A terceira ocorreu em julho em pessoa (44anos) do sexo feminino e que havia viajado para Foz do Iguaçu.

O Gráfico 2 apresenta a evolução da incidência dos casos importados (fonte provável de infecção outro município) iniciando-se em 2010 e seguindo em paralelo com a incidência de casos autóctones (fonte provável de infecção Pato Branco) até o mês de dezembro de 2019. O ano de 2016 evidencia-se com a maior incidência de casos. Neste ano de 2019 registrou-se 7 casos importados e 2 casos autóctones. Na história do município foi registrado 139 ocorrências de Dengue, 86 casos autóctones e 53 importados.

Gráfico 2: Evolução dos casos de dengue em Pato Branco GRÁFICO 2 – Evolução no número de casos de dengue autóctones e importados em munícipes de Pato Branco. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

No Gráfico 3 observamos que a dengue teve uma distribuição de infecção na população masculina que superou a população feminina em 1,1%.

Gráfico 3: Distribuição dos casos por gênero GRÁFICO 3 – Distribuição das ocorrências de dengue segundo gênero em munícipes de Pato Branco. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

Observa-se no Gráfico 4 que a taxa de ataque segundo a faixa etária ocorreu de forma muito próxima entre a população adulta de 20 a 59 anos (25,4/10.000hab) e a população da terceira idade 60 + anos (24,7/10.000).

Gráfico 4: Taxa de ataque por faixa etária GRÁFICO 4 – Distribuição dos casos de dengue e a taxa de ataque segundo a faixa etária na população de Pato Branco. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

A população que se apresentou mais vulnerável reside na região do Centro e Sul do município conforme expressa o Gráfico 5, sendo a maior taxa de ataque 4.22 casos para cada 1.000 imóveis na região Sul. Nesta região os bairros com maior risco foram: Alvorada, São Cristóvão, São Roque, Morumbi, Santo Antônio, Novo Horizonte, Cristo Rei, Pinheirinho e Bonato.

Gráfico 5: Casos de dengue por zona territorial GRÁFICO 5 - Distribuição dos casos de dengue e a taxa de ataque segundo a zona territorial na população de Pato Branco. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

Identificação de Riscos

As informações dos registros de dengue nos direcionam para locais de maior risco possibilitando a economia de recursos e a adequação das ações. No Gráfico 6 podemos visualizar as 20 ruas que se apresentaram com maior número de ocorrências. As incidências dos casos podem evidenciar condições ambientais favoráveis à doença. Na Tabela 1 podemos visualizar os trechos entre números das ruas de maior evidência.

Gráfico 6: Incidência de dengue por ruas GRÁFICO 6 - Distribuição dos casos de dengue segundo as vinte ruas de maior incidência na população de Pato Branco. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses Tabela 1: Distribuição dos casos de dengue segundo trechos entre números das ruas de maior
                            incidência na população de Pato Branco TABELA 1 - Distribuição dos casos de dengue segundo trechos entre números das ruas de maior incidência na população de Pato Branco. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

No Quadro 1 podemos observar a dispersão dos casos de dengue no mapa urbano do município de Pato Branco referente ao ano de 2015 no decorrer dos 6 ciclos de intervenção sobre as arboviroses. Os pontos georeferenciados estendem-se no círculo em vermelho que representam o raio de transmissão da doença calculado em 300 metros. No Quadro 2 referente ao ano de 2016 visualiza-se o agravamento da situação no ciclo 2, sendo o mesmo que se apresentou com maior número de casos no ano 2015.

Quadro 1: Dispersão dos casos de dengue em 2015 QUADRO 1 – Dispersão das ocorrências de dengue no município de Pato Branco de acordo com o ciclo de intervenção no ano de 2015. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses Quadro 2: Dispersão dos casos de dengue em 2016 QUADRO 2 – Dispersão das ocorrências de dengue no município de Pato Branco de acordo com o ciclo de intervenção no ano de 2016. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

No ano de 2018 iniciou-se com as atividades de identificação e georeferenciamento dos depósitos potenciais criadouros de Aedes conforme observamos no Gráfico 7 e Quadro 3. Com uma evolução ascendente em cada ciclo de trabalho atingindo 5.045 depósitos identificados. A linha pontilhada para o ciclo 6-19 refere-se ao período ainda não concluído que irá até a semana epidemiológica 52.

GRÁFICO 7 – Evolução na identificação de depósitos potenciais de Aedes nos imóveis do município
                            de Pato Branco até semana epidemiológica 49. GRÁFICO 7 – Evolução na identificação de depósitos potenciais de Aedes nos imóveis do município de Pato Branco até semana epidemiológica 49.. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

O Quadro 3 podemos visualizar a distribuição dos depósitos potenciais criadouros de Aedes identificados com pontos verdes. Observamos também o georeferenciamento das larvas positivas para Aedes com os pontos que se estendem no círculo em laranja com raio calculado de 300 metros da possível circulação vetorial. Neste ano os índices de LIRA apresentaram-se sempre em condições satisfatórias com valores abaixo de 1% conforme classificação do Ministério da Saúde.

Quadro 3: Georreferenciamento de depósitos e larvas em 2018 QUADRO 3 – Georeferenciamento dos depósitos potenciais criadouros e larvas positivas de Aedes no município de Pato Branco de acordo com o ciclo de intervenção no ano de 2018. FONTE: EpiGeo- Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arbovirose

No Quadro 4 visualizamos em vermelho os casos de dengue e em laranja os casos de larvas Aedes. Esta informação refere-se aos casos de dengue do ciclo 2 do ano de 2016 e todas as larvas encontradas no ano de 2018. Observa-se uma possibilidade de associação da região no entorno da Avenida Tupi à 1.000 metros a direita e 1.000 a esquerda aproximadamente como habitat ideal para o Aedes e que propicia a transmissão da dengue.

Quadro 4: Casos de dengue e larvas positivas de Aedes QUADRO 4 - Dispersão dos casos de Dengue no 2º ciclo do ano de 2016 com raio de 300mts e larvas Aedes positivas ano 2018 no município de Pato Branco. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

O Quadro 5 demonstra o georeferenciamento dos depósitos potenciais criadouros na cor verde, das larvas positivas de Aedes na cor laranja e dos casos de dengue na cor vermelha no município de Pato Branco referente ao ano 2019. Salienta-se que o município esteve em alerta para epidemia considerando a primeira e a segunda pesquisa do LIRA com índice de infestação predial de 1,9% e 1,1% respectivamente. O Quadro 6 demostra a identificação dos depósitos por tipo conforme sua frequência em cada ciclo de trabalho. O Quadro 7 demonstra o georeferenciamento dos 80 pontos estratégicos existentes no município. Ao observarmos estes quadros juntamente com a análise dos serviços prestados pelo poder público, com uma rotina de inspeção bimensal nos imóveis em geral e quinzenal nos pontos estratégicos, em analogia com a biologia do vetor e a mobilidade da população para áreas de risco de transmissão viral, podemos dimensionar o grau de vulnerabilidade da população para as arboviroses. As fêmeas de Aedes vivem em torno de 30 dias e necessitam alimentar-se de sangue a cada 3 dias para a maturação de seus ovos. Neste período de vida uma fêmea pode depositar de 1000 a 1500 ovos no ambiente, sendo que a cada 3 dias são de 100 a 150 ovos depositados em vários depósitos. Em 7 dias estes ovos podem chegar na fase adulta com potencialidades de veicular os arbovírus. É importante salientarmos que os tipos de depósitos potenciais criadouros do Quadro 6 dependem da manutenção periódica, muitas vezes da conservação livre de ovos a cada 7 dias, o que fica evidente a responsabilidade social quanto a participação de cada munícipe no controle de vetores. O risco da população de Pato Branco às doenças veiculadas pelo Aedes diante a este diagnóstico epidemiológico e as evidências de exposição conforme apresentado no Gráfico 1 dos locais prováveis fontes de infecção está diretamente associada a conscientização para a manutenção adequada de depósitos potenciais criadouros e para o uso de repelentes quando a exposição em áreas de circulação viral for inevitável.

Quadro 5: Georreferenciamento de criadouros e casos em 2019 QUADRO 5 – Georeferenciamento dos depósitos potenciais criadouros, larvas positivas de Aedes e casos de dengue no município de Pato Branco de acordo com o ciclo de intervenção no ano de 2019. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses Quadro 6: Tipos de depósitos potenciais criadouros QUADRO 6 – Identificação dos depósitos potenciais criadouros de Aedes no município de Pato Branco de acordo com o ciclo de intervenção no ano de 2019. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

No Quadro 7, são georreferenciados os 80 pontos estratégicos do município, com inspeções regulares realizadas para controle.

Quadro 7: Georreferenciamento de pontos estratégicos QUADRO 7 – Georeferenciamento dos 80 pontos estratégicos no município de Pato Branco intervenção no ano de 2019. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

O Plano de Contingência tem como uma das ferramentas para o monitoramento de epidemia o Diagrama de Controle – Gráfico 8, que alerta para os níveis de gravidade da incidência dos casos segundo a semana epidemiológica. Com fundamentação estatística relaciona a série histórica com as ocorrências da semana em análise. Com este monitoramento observou-se a associação de maior incidência nas semanas que compõe os meses de outubro até abril. No diagrama a análise se dá com o olhar nas linhas do limite máximo de incidência, na média móvel e nas ocorrências no decorrer das semanas. Com estes parâmetros de incidência da doença juntamente com o índice de infestação do vetor, a ocorrência de óbitos e a referencia geográfica

Gráfico 8: Diagrama de controle de ocorrências de dengue GRÁFICO 8 – Diagrama de controle das ocorrências de dengue no município de Pato Branco até semana 51 de 2019. FONTE: EpiGeo-Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses

Quanto ao Zika e a febre de chikungunya relata-se a ocorrência de apenas 1 caso de Zika no ano de 2016, registrado no mês de março quando uma pessoa do sexo feminino residente no bairro Fraron com 56 anos manifestou-se com sintomatologia e exames clínicos e laboratoriais compatíveis com a doença. Sem histórico de viagem marcou como caso autóctone.

Conclusão

A informação pode transformar uma realidade epidemiológica quando chega em tempo oportuno. Os ambientes dos nossos imóveis sofrem diariamente modificações por conta do nosso modo de vida. A cada dia o vetor adapta-se em novos meios que propiciam o acúmulo de água. A importância de cada um fazer a sua parte trata-se sobretudo de uma proteção individual no controle da dengue e outras viroses. A população vulnerável não é escolhida pelo vetor, mas tornase a vítima por tratar-se da oferta mais próxima de sangue capaz de maturar seus ovos. Para que o vírus da dengue tenha uma condição de sustentabilidade em um local há que existir o Homem, o Vetor e a Água (criadouros). A forma mais racional para o controle desta doença se fundamenta no conhecimento dos meios de proteção individual, na notificação de casos suspeitos oportunamente, no acompanhamento do paciente, na eliminação de criadouros quando possível ou na manutenção de depósitos potenciais criadouros de forma adequada.

Diante deste perfil epidemiológico de Pato Branco e do aumento da incidência de arboviroses no Brasil, a população precisa estar atenta para as medidas de proteção individual com uso de repelente ao sair de viagem e aos cuidados de manutenção de depósitos potenciais criadouros conforme cada tipo.

Considerando as melhores condições de clima para o Aedes nos próximos meses em nossa região e a condição epidemiológica do Brasil, o risco para a ocorrência de novos casos de dengue até abril de 2020 é um fato que deve ser considerado com muita disciplina e determinação de cuidados.

Relatório elaborado por Wilson Rogério Braun e colaboradores. Fonte: EpiGeo – Sistema para diagnóstico e intervenção sobre arboviroses.